sexta-feira, 20 de abril de 2007

O mundo perfeito.

- Por que o mundo não pode ser perfeito?
- Porque não teria graça nenhuma.
- Como assim?
- Imagine: que graça teria a vida se você já tivesse, desde sempre, tudo o que precisa?
- Teria muita graça.
- Não teria, não. Você não teria pelo que batalhar, e a vida não teria sentido algum.
- Se fosse perfeito eu teria tudo que preciso, e se preciso de algo pelo que batalhar, teria.
- Mas com o que você poderia sonhar se já tivesse tudo?
- Se tivesse tudo também teria sonhos.
- E qual seria o prazer em sentir-se feliz, se você se sentiria feliz a todo momento?
- Se fosse perfeito eu nunca deixaria de sentir os prazeres da felicidade.
- E como gastaria os seus dias, já que teria tudo?
- Gastaria fazendo as coisas que gosto, já que teria tempo.
- E não haveriam obrigações? Como seria um mundo onde as pessoas não tivessem obrigações?
- Como seria? Isso não é discutível, seria perfeito. Afinal estamos falando de um mundo perfeito.
- Nada pode ser perfeito, não há lógica nisso.
- Se fosse perfeito haveria lógica; ou não precisaria de lógica alguma.
- E as pessoas? Seriam todas iguais?
- Por que haveriam de ser iguais?
- Porque seriam todas perfeitas.
- Não sei...
- Não teria graça nenhuma se fosse assim.
- Se você acha isso, seriam diferentes, pois seria perfeito.
- "Se você acha isso"? Então o mundo seria diferente na visão de cada um? O que é perfeito pra você pode não ser para mim.
- Não faz muita diferença: o mundo nunca foi igual na visão de todos.
- Tem razão. Talvez o mundo pudesse sim ser perfeito...

terça-feira, 10 de abril de 2007

Um último telefonema.

O silêncio do outro lado do telefone consumava o fim das tentativas de contato, e as cartas recebidas, já antigas, não despertavam mais a mesma alegria. Estava tudo acabado, não restava nada, a não ser pensar em alguma coisa com a qual se ocupar, e ela acabava por passar o tempo comendo. Antes do rompimento o apego nem era tão grande, mas o sentimento de perda era forte e ofuscava qualquer outro pensamento.
Nunca havia sido muito boa em dissimular sentimentos e a mãe facilmente percebeu algo diferente: "ela não parece bem", comentava com o pai. Logo parou de convidá-los para almoçar e foi, também, aos poucos, deixando de comer, transferindo o vício para o cigarro, o que a deixou extremamente magra. Até então havia resistido à vontade de telefoná-lo novamente, mas a essa altura não restava amor próprio que pudesse impedi-la de se rebaixar.
- Alô? - disse ele do outro lado da linha.
Ela permaneceu calada. Ouvir a sua voz já não era a mesma coisa. Estava curada.

terça-feira, 3 de abril de 2007

O Circo

Sentado na arquibancada de tábua, sonhava mais do que nunca. O mundo se desdobrava em mágica entre os vôos e saltos mortais dos artistas, e os pinos do malabarista ditavam a direção dos olhares. Bailarinas desciam do topo da alta lona seguras por compridos lenços coloridos, e rodavam no ar, para atingirem o chão já dançando ao som de uma animada canção. Era outro mundo.
Achava tudo maravilhoso, do mágico ao palhaço - na verdade mesmo, dos palhaços tinha medo, mas o tio explicou que não tinha o que temer -, e adimirava principalmente o mágico, que facilmente fazia levitar a bela assistente, e passava o bambolê, pra que não restassem dúvidas.
Viu também animais, riu bastante quando o jacaré fugiu sem ser visto, e foi pra casa feliz, já depois da hora de dormir.
No dia seguinte - como não poderia deixar de ser - contaria tudo na escola.

domingo, 1 de abril de 2007

Na cela da delegacia.

Já que o blog, como eu disse, é para textos de todo tipo, vai aí algo descontraido; um apêndice literário:


Marcone era suspeito de matar a própria mulher, mas jurava de pés juntos a inocência.
- É inocente, é? - perguntou o companheiro de cela.
- Que motivos eu teria pra matar minha esposa?
- Então matou sem motivo?
- Eu não matei!
- E por que está aqui?
- Fui acusado de matar minha mulher.
- Ela te traiu?
- Não que eu saiba.
- E por que matou?
- Não matei.
Segundos de silêncio.
- E você, por que está aqui? - perguntou Marcone.
- Sequestro.
- Sequestrou alguém importante?
- Não sequestrei ninguém. Só fazia a comida no cativeiro.
- E onde estão os seus parceiros de sequestro?
- Não sei... Só tinha eu e a criança na casa quando a polícia chegou.
O clima esquentou.
- Uma criança? Que tipo de covarde sequestra uma criança indefesa?
- Você matou a sua mulher, não venha me criticar!
- Eu não matei ninguém!
- E eu sou cozinheiro! Não sequestrei ninguém!
- É mesmo um covarde! Não nege os seus atos!
- E quem é que está negando o assassinato da própria mulher?
Um policial abriu a cela e os dois se calaram.
- Marcone, você vai pra casa. Responder em liberdade. - disse o policial.
- Eu te disse que não matei ninguém! - gritou Marcone para o companheiro.
Silêncio novamente.
- Vou sentir a sua falta.
- Eu também.

O orfanato.

Você já ouviu falar que fazer trabalhos beneficentes e prestar solidariedade é algo compensador? Certamente que sim, mas você acredita?

Eu sempre acreditei no bem estar que essas ações nos trazem, mas ontem aprendi que não é tão interno quanto eu pensava: o bem estar vem de fora; do ambiente e das pessoas.

Me deixe explicar:

Sábado, 31 de março de 2007. Dia de festa no orfanato Cristo Redentor, e eu e uma amiga - Larissa - fomos lá tocar. Violões, guitarras, percussão, alguns problemas com som... Aparentemente um show normal - e a princípio foi -, até que as meninas do orfanato resolveram cantar e dançar, e daí pra frente não dá pra explicar o quanto a noite foi animada.
Talvez você possa imaginar todas cantando juntas, e fazendo coreografias, e, depois do show, cantando alto no microfone...

Espero voltar lá em breve, pois poucas coisas até hoje me fizeram tanto bem.

While my eyes go looking for...

Saudações.
Permita-me a apresentação do estabelecimento:

Estou abrindo hoje esse blog para saciar uma vontade: escrever informalmente.
Se você me conhece, deve saber sobre meu outro blog - Dizeres Livres -, e se já foi lá deve ter percebido que de livre não tem nada. É um blog apenas de poemas, e eu gosto de escrever poemas, mas às vezes dá vontade de escrever outras coisas, de contar histórias, de falar besteira...

A idéia aqui é justamente não me prender a nada, e falar do que me der vontade, seja descontraído ou polêmico, seja o que for.

Outra coisa que devo dizer: a página "comentários" também é lugar pra literatura, pois não tem nada mais broxante do que comentários falsos.

Um abraço, e até os textos seguintes.