terça-feira, 10 de abril de 2007

Um último telefonema.

O silêncio do outro lado do telefone consumava o fim das tentativas de contato, e as cartas recebidas, já antigas, não despertavam mais a mesma alegria. Estava tudo acabado, não restava nada, a não ser pensar em alguma coisa com a qual se ocupar, e ela acabava por passar o tempo comendo. Antes do rompimento o apego nem era tão grande, mas o sentimento de perda era forte e ofuscava qualquer outro pensamento.
Nunca havia sido muito boa em dissimular sentimentos e a mãe facilmente percebeu algo diferente: "ela não parece bem", comentava com o pai. Logo parou de convidá-los para almoçar e foi, também, aos poucos, deixando de comer, transferindo o vício para o cigarro, o que a deixou extremamente magra. Até então havia resistido à vontade de telefoná-lo novamente, mas a essa altura não restava amor próprio que pudesse impedi-la de se rebaixar.
- Alô? - disse ele do outro lado da linha.
Ela permaneceu calada. Ouvir a sua voz já não era a mesma coisa. Estava curada.

2 comentários:

damilesmurielle disse...

De fato, isso me soou bastante parecido. Apenas uma palavra e parece que todo o texto foi voltado para ela. E o desfeixo, para o que você queria que acontecesse. Mas, o que de mais relevante pode ser dito é que você está passando a criar uma interessante camada de conteúdo. É, você está escrevendo melhor.

:)

Anônimo disse...

“Sua voz ja nao era a mesma coisa“. E isso faz, de fato, toda a diferenca.


Lindo texto. Muita, muita sensibilidade. Homens como voce nao precisam trocar pneu.. ;)