quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Miranda e Eu

Acordei de madrugada e não havia ninguém ao meu lado. Não havia energia e, dessa forma, o telefone sem fio não funcionava. Busquei dentro da gaveta, no escuro, o meu celular e liguei pro de Miranda, que tocou logo atrás de mim – possivelmente no armário. Sumira na noite, sem aviso, sem celular e, como se não bastasse, levara-me também a energia. Um banho me esfriaria a cabeça, contudo não havia água. Procurei, então, inutilmente, algo para beber ou comer, mas Miranda me levara até os sapatos. A paranóia me tomou a mente. Procurei a chave do carro, em seguida, o carro, e, ainda, as chaves de casa, sem sucesso, de fato. Ela levara a minha liberdade e estava, agora, me tirando a calma.
Dividi-me em dois pensamentos: poderia estar passando por uma seqüência de coincidências improváveis e quase impossíveis; ou, talvez, eu tivesse uma bandida como esposa por sete anos. Como pude? Como ela pôde? Não! Não! Ela haveria de voltar pra casa ao amanhecer. Procurei no canto da sala e não encontrei o meu violão – a maior frustração até então. Considerei a possibilidade da casa ter sido invadida. Conferi todas as fechaduras, mas nem sinal de arrombamento. Talvez um recado no escuro do quarto, pois se Miranda, por qualquer motivo, decidisse levar tudo de mim, não me deixaria o seu celular. Voltei ao quarto e abri o armário cujo interior eu mal podia ver no escuro, e lá estava o celular, no bolso de Miranda, assassinada, roubada de mim por aquele que roubara até os meus sapatos.