segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Os Atores.

O mundo é dos atores e digo porque conheço uns bons, que me têm na mão quando resolvem mentir sobre verdades e mentiras que diziam - ou mentiam - ser mentiras ou verdades, ou dissimular respostas às minhas perguntas sobre omissões. Não são necessariamente artistas, mas os admiro pela dificuldade que há em se dar sempre bem, mesmo estando mal.

terça-feira, 4 de setembro de 2007

Convite.

A explícita alegria nas frases lembrava as conversas alheias ouvidas meio sem querer no centro da cidade, e os erros de português as palavras da mãe que se fôra. Chorava e engolia virgulas sem pensar, na mistura da alegria da correspondência com a nostalgia das recordações. No envelope, além da carta, um convite e um retrato antigo de casa – as letras douradas chamavam a atenção, mas não mais que a imagem da família embaixo do cajueiro. Catou no armário um porta-retrato velho, contudo retirou de um dos novos, na escrivaninha, a foto do ladrador, pois a única foto que tinha da família reunida merecia moldura bonita. Guardou o envelope e o manuscrito sob o pano da mesa para ler o convite impresso, formal, com letras enfeitadas, lacrado por um adorno em flor e, já na segunda linha, soube o final: a irmã se casaria em breve.
Correu ao quarto para buscar uma correspondência antiga, na esperança de encontrar o nome do sujeito, mas não encontrou. Já não era aquele namorado esse tal noivo, mas tudo bem, deviam se amar... Pena seria não poder comparecer. De madrugada iria telefonar e dizer coisas bonitas, falar da saudade de tudo por lá e mandar um abraço para o pai. No final, se arranjasse coragem, falaria também pela mãe e diria que ama, mesmo que qualquer “iria se pudesse” soasse quase como um “tentaria se quisesse”. Verdade é que tinha que trabalhar.