quarta-feira, 19 de dezembro de 2007
A Pedra
Uma pedra. Haveria algum motivo para estar ali? Talvez, assim como ele, estivesse caída sem objetivo, com frio e com fome... Sentou-se bem perto para talvez conversar, mas a imensa vontade que lhe vinha era de arremessá-la ali, nos vidros espelhados daquela loja. No comércio todas as vitrines eram transparentes, exceto aquelas, daquele prédio onde os mais bem vestidos transeuntes entravam, e o pobre homem – ou homem pobre – nunca podia saber o que se fazia ali. Empunhou a pedra e levantou-se, olhando-a como se pedisse perdão; deu dois passos à frente, saindo de cima do papelão, e arremessou-a com toda força que lhe restava de uma longínqua refeição. Vidro estilhaçado e uma bela visão do interior, apesar do escuro por haver um único poste a tantos metros ali... Consumado. Poderia voltar a dormir.
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5 comentários:
Não era apenas vontade, de fato. Eram questões que vão além da compreensão dele. Era simples, era rápido, mas lhe fazia suspirar, se render a uma intermitente pulsação, uma força volúvel que palpitava dentro nele. Por que Maria? Ele sabia tudo qu’ela dizia. Sabia dos beijos, dos lampejos, dos desejos, mas ele não podia. Não podia tocar Maria. Tinha-la como uma santa. Devoto da luxúria vertida num querer desesperação, era ele.
Não era a primeira vez, qu'ele caía em suas próprias sentimentalidades. Tocava a roupa c’uma dilatação secreta, que palpitava e lhe acrescentava força e vergonha. Por que Maria? Não poderia violentar o gosto doce da jovem Maria.
.. embora, no final, ambos, pedra e homem, continuassem ali - caídos sem objetivo algum.
Quase uma forma de manifestação barata. Pelo menos ele fez a marca dele e pôde se satisfazer, não?
Não sei te dizer
Dessa incerteza que tem
Ela sabe o que vai fazer
Ela sabe que vai viver
Deixa' menina chorar
Pr'ela aprender
Ela vai viver
Ela vai cantar
Nos braços ela me traz
Nos cantos ela me trai
Nos quartos a gente faz
Cantando pra nunca mais
Deixa' menina cantar
S'ela quer viver
Ela vai tremer
Ela vai gostar
em linhas distantes
dois amantes não são
são linhas sozinhas
correndo em vão
Não podes dizer
qu'è meu esse não
Palavra tão curta
que faz solidão
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