quinta-feira, 5 de julho de 2007

A menina que era bonita por ser, e sem merecer.

Era jovem, mas algo de desgastado - não sei se no rosto - lhe dava um falso ar de maturidade. As bermudas que lhe cabiam as pernas ficavam folgadas na cintura, e os homens não conseguiam disfarçar os breves olhares para o elástico da calcinha. Pela falta de pudor da juventude despreocupada, a blusa não lhe cobria a barriga, de forma a ninguém notar os cabelos despenteados que ela nem se dava ao trabalho de esconder. A avó já havia desistido, a neta era bagunçada mesmo...
Bagunçada, mas não feia. Isso nunca. Aquele corpo, que não condizia com a idade, tirava do sério homens casados e bem sucedidos, e só não chamava a atenção dos meninos da classe porque esses tinham medo de apanhar - ela batia mesmo. Porém, não sei por que, na rua não era cantada com frequência, e na escola só de brincadeira, pelos meninos mais velhos... Era sozinha e falava pouco, e todos que a desejavam o faziam de longe.
Estaria o problema em ser bonita? Ou seria a maldição o seu temperamento? Nunca acreditou que a culpa pudesse ser sua, talvez por ser mais fácil pôr a culpa em Deus:

- Não tenho culpa se sou bonita e as meninas não gostam de mim, nem posso fazer nada se os meninos do colégio não têm coragem conversar comigo...

Mas "quem vai cobrar de Deus as dívidas de Deus?"* A menina feia na primeira fila da sua sala tinha amigos, por que ela não poderia ter? Isso - assim como tantas outras coisas - ela nunca parou pra pensar.


* Citação da música Tom Zé É Pai, da banda 1/2 Dúzia de 3 ou 4.

4 comentários:

Lili disse...

Pobre menina linda.
É difícil estar no constante julgamento dos outros.
Espero que tenha uma continuação e que ela consiga ser feliz \o/

Anônimo disse...

Ainda me pergunto o que precisa fazer alguém para merecer a beleza (ou a feiura) que tem. Nisso, a menina bonita nunca deve ter parado pra pensar também. Talvez o menino.

Unknown disse...

"quem falou o que era o feio" (Pitty).
A beleza estava nos olhos que quem vê. Como a sociedade vê pela mesma ótica, a solução é se adaptar, ou mudar para outro grupo que reconheça outros padrões.

Anônimo disse...

Beauty is a curse.